sábado, 31 de março de 2012

Fato notório




     A moça entrou no escritório do Dr. Alceu, que fica em Porto Alegre, pedindo reconhecimento de paternidade do seu filho. Lucinha, que era de Bagé, bem como o Dr. Alceu, filha de um empresário conhecido na cidade, dizia que Rubinho era o pai de seu filho. Eram tempos difíceis para as moças os dos anos 70, ficavam “faladas” se fossem mães solteiras, por isso queria que o rapaz assumisse o filho e a ela.

     Para tanto, era preciso de provas para acusar o suposto pai. Detalhe: era num tempo em que não existia teste de DNA. Dr. Alceu perguntou se a moça tinha alguma carta do namorado, nenhuma. Questionou se ela havia contado para alguma amiga... Nada, para ninguém. Se alguém tinha visto os dois juntos, também não. Era um amor secreto, tão secreto que não existiam provas. Nadinha.

     Dr. Alceu, então, disse para Lucinha que no momento não podia ser feito nada, mas que retornasse em um ano ao escritório. Nada podendo fazer, tampouco compreendendo o porquê daquilo, saiu resignada.

     O advogado, recordando do tempo em que morava em Bagé, procurou lembrar-se dos conhecidos, pessoas faladeiras, comunicativas. Uma viagem até Bagé, uma parada no café central da cidade, espera pela pessoa certa, que tem a esposa certa...

- Pois é Joaquim, nem te conto! Sabe a filha do dono do supermercado, a Lucinha?

- Sei, o que tem ela?!

- Não, melhor deixar pra lá, é segredo, estou trabalhando num processo...

- Conta, vai!

- Não, é segredo.

- Ah, conta, só entre nós!

- Sabe o filho dela, pois é, o pai do menino é o Rubinho.

- É mesmo!

- Mas, oh, é segredo!

- Pode deixar!

     Acontece que Dona Divina soube do segredo que lhe fora confidenciado pelo marido, o Seu Joaquim. Ela trabalhava no único salão de beleza daquela época na cidade e também gostava de distribuir novidades da vida alheia.

     Não precisou de um ano, seis meses depois Lucinha retorna ao escritório. “Não sei como Dr. Alceu, mas as pessoas estão comentando que o Rubinho é pai do Paulinho.” Então, disse o advogado, podemos entrar com a ação.

Na audiência o Juiz pergunta:

- Alguma prova, doutor?

- É fato notório, excelência! Todos sabem, pergunte por aí...

     O próprio Juiz já tinha ouvido falar.

     Rubinho e Lucinha tiveram mais um filho e até hoje vivem felizes.



Patrícia de Castro Bandeira

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Curti! como nada torna-se argumentos por meio de acontecimentos cíclicos! só achei desnecessária a última frase, sendo homem seria difícil ficar com essa mulher, quanto mais ser feliz...