sábado, 18 de junho de 2011

Os carros são os donos das ruas?


O vídeo é um desabafo, abaixo está o meu...
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Há pouco tempo aqui em Porto Alegre um motorista arrogante se achou no direito de passar por cima de ciclistas que estavam atravancando o seu caminho. Agora, por conta de um motorista, como muitos por aí, morre um ciclista ativista, uma dessas pessoas que anda de bicicleta por acreditar que com mais bicicletas nas ruas e menos carros, a vida em sociedade ficará melhor. Antônio Bertolucci sempre ia de bicicleta para o trabalho, apesar de poder ir com um mega carro, já que era um dos Presidentes da Lorenzetti, ia porque acreditava na importância de as pessoas usarem a bicicleta como forma de transporte, limpo, digno e social. Como ele, vários países europeus também pensam assim e, não à toa, são de primeiro mundo.
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Engraçado, o motorista esquece que em algum momento ele também é pedestre ou pode ser um ciclista. O que temos visto são motoristas irresponsáveis achando que são os donos das ruas, e o pior é o Estado também parece pensar assim, talvez pela quantidade de impostos que receba deles, talvez porque já esteja entranhado nas pessoas que quem está dentro de um carro é um ser superior e que, portanto, merece respeito e mais privilégios do que os outros seres que estão sem o carro.
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Aqui no Brasil temos as seguintes situações:
1 - Quem anda de carro é bem tratado e considerado uma pessoa de bem (porque se tem um carro, em tese, tem algum dinheiro, não é tão pobre);
2 - Quem anda à pé (ainda que tenha acabado de deixar o carro no estacionamento)é considerado como ser inferior em relação aos motoristas que andam blindados e protegidos em seus carros. As pessoas andantes têm menos respeito e consideração pela sociedade, pois na nossa cultura merece respeito se estiver dentro de um carro. Logo, se ela estiver passando na metade da faixa de pedestre e o sinal fechar para ela, melhor sair correndo porque os carros com toda a certeza irão passar por cima dela. Isso não foi uma piada, é realidade infeliz e cruel. Tomara que ela tenha condições físicas para correr;
3 - Quem anda de bicicleta é porque é pobre e não pode andar de carro, então, não merece respeito nenhum. Essa é a triste realidade que temos, é verdade. A pesar de na lei constar que o ciclista deve ser respeitado, ficando o motorista a um metro e meio de distância e protegendo-o, afinal, uma batida de carro pode ser mortal, o ciclista é totalmente desrespeitado. Chegam mesmo a dizer que "eles" (os ciclistas) só servem para atrapalhar o trânsito. Mais uma prova de que os motoristas se consideram donos das ruas;
4 - Os transportes públicos são de má qualidade, má não, péssima, todavia ninguém protesta. As pessoas fazem torcidas organizadas, se organizam durante um ano inteiro para festejar o carnaval, mas ninguém se organiza para protestar e exigir melhores e mais dignos transportes coletivos. No fundo, as pessoas aceitam, pois sonham em poder comprar um carrinho e sair daquele inferno, daquela situação humilhante em que muitas vezes são obrigadas a suportar.
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Só que, se existissem mais ciclistas nas ruas, menos pessoas andando de carro e utilizando mais transportes coletivos (bons transportes, efetivos e dignos), quando precisássemos realmente usar o carro, as ruas não estariam o caos que está. Hoje o cenário é de engarrafamento o tempo inteiro, as ruas lotadas de carros, por conta disso vemos motoristas irritados, fazendo coisas absurdas, tomando atitudes imprudentes e irresponsáveis, colocando em risco a vida de várias pessoas sem sequer se dar conta do que estão fazendo, sem perceberem que podem a qualquer momento tirar a vida de alguém. Porque, afinal, ninguém acha que vão matar alguém no trânsito, o outro sim, o outro motorista que é barbeiro, que é mal-educado pode, "eu não", "comigo isso nunca vai acontecer" porque eu "dirijo bem".
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E onde está o Estado? Temos um poder central que deveria nos garantir essa proteção. O pedestres, os ciclistas estão em constante desproteção do Estado. Até quando? Quando as autoridades irão implementar uma política de segurança a todos? Quantas pessoas mais terão de morrer nesse sistema que privilegia o carro?
Até quando vamos continuar aceitando isso?

Um comentário:

Hotel Crônica disse...

Belo post Patrícia!
A Renata Falzoni é um barato...
Sou totalmente a favor da bicicleta,
aliás estou publicando no meu blog o diário de minha primeira viagem que fiz de bicicleta pelo nordeste, vou postar pelo menos dois trechos da viagem por semana. Já estou programando a próxima...
De qq forma é um barato ver países como a holanda onde as bicicletas prevalecem. (Obviamente que não podemos desconsiderar que o país é totalmente plano o q facilita a prática do esporte)
Abraços!!

ps: quem tiver curiosidade sobre como é uma viagem de bike pode acompanhar em
www.hotelcronica.blogspot.com
(desculpa o "merchan" aí Paty!
rs...)
Abraço a todos